sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Silêncio dos Culpados


É engraçado como no Brasil criou-se um mito de que as grandes emissoras de televisão através de seus telejornais vem manipulando a opinião pública de maneira a satisfazer os seus interesses e os principais articuladores dessa acusação são os evangélicos.
Porém, é escandalosa a maneira com que alguns ditos lideres evangélicos, sobretudo os "blockbusters" e "mega-stars" presentes nos meios de comunicação conseguem cegar esses mesmos acusadores. É absurdo, pra não dizer demoníaco, a imoralidade exercida por essa corja à vista de todo mundo. Entorpecidos pela ambição, olvidaram-se do princípio da sabedoria.

Qualquer um que se posicione com uma postura rígida contra essa devassidão escancarada é atacado e censurado por esses mesmos fundamentalistas e puritanos portadores da "mente de Cristo". Nos EUA a igreja sucumbiu em meio a esse mar de falcatruas evangélicas exatamente por omissão de quem devia se manifestar e não o fez. No Brasil, não só estamos sucumbindo como cobrindo a igreja de vergonha num processo irreversível.

É um vírus de podridão que contamina em velocidade assustadora, se alastrando pelas células de defesa do corpo da nação, que são os crentes, pra que depois, sem imunidade da vítima, seu criador possa concretizar seus propósitos. Oprimidos pelo barulho dos protestos infectados dos bancos, a enfermidade se propaga silenciosa sobre os pulpitos. Não há quem ouse recalcitrar contra a voz do povo, presumiu-se há muito tempo que ela seria a voz de Deus.
Não há questionamentos. As fraudes são agregadas a teologia e aos princípios das igrejas que, desapercebidamente, engolem a podridão das comidas estragadas importadas das latas de lixo do tio Sam. Com os ventres saciados, agonizam moribundos.

A moléstia ataca em duas frentes:

Por um lado, os enlatados pentecostais americanos corrompem e deturpam o significado de culto nas igrejas. Rodar, cair e levantar infelizmente deixaram de ser termos debochados das letras dos ritmos nordestinos pra se tornarem a mais nova sensação nos templos. A adoração é supérflua se não houver uma resposta divina que seja explicita e manifesta fisicamente. A liturgia desregrada alegra e dá nova cor ao fundo acinzentado dessa teologia rala. Não há ênfase nos resultados posteriores ao culto na vida dos crentes provenientes dos sermões. O que se busca
desenfreadamente são homens capazes de emocionar e animar os vasos sedentos por azeite, destruindo a inércia. A botija precisa ser cheia até transbordar, nem que para isso se sacrifique a ordem e a reverência. É considerado "bom" o mensageiro que profetiza ao vento, com a platéia desmaiada ao chão. Crente cheio de poder não resiste em pé. Despreza-se a questão retórica: Poder pra quê? Pra fazer outros caírem com imposição de mãos numa bola de neve mega espiritual?
Difícil entender um deus que derruba os ouvintes pra depois falar com as paredes, ou que interrompa seus adoradores enquanto o cultuam.

Por outro lado a teologia da prosperidade surpreende pela ousadia. Não há nada que demonstre mais nitidamente o agir do malígno.
Escândalos e falcatruas desmascarados em rede nacional parecem inexplicavelmente dar ainda mais combustível à síndrome da usura. Os cultos deram lugar as reuniões e os sermões às palestras. Os valores e princípos também foram invertidos: tudo é projetado de cima para baixo e deus cultua os homens com generosidades controversas que desequilibram a balança da ética e da moral. Se fossem removidas do vocábulário dos conferêncistas e cantores as palavras "bênção" e "vitória" talvez se ouvisse em meio a ensurdecedora taciturnidade o bater na porta Daquele que há muito deseja entrar.

No passado, denunciar a corrupção e a imoralidade derrubava cabeças de profetas em bandejas, mas hoje o que se teme é a queda do Ibope e da popularidade. E assim, segue camuflada pelas plumas do medo e da negligência a lepra da cristandade brasileira.

Tudo está dentro da normalidade ! É a vontade de Deus se cumprindo !
Ouve-se ecoar nos bastidores da tolerância dos desnutridos e desinformados.

Fingir-se de cego soa diferente de indiferente!
É a tônica no discurso da consciência dos profetas.

Guardemos silêncio, aguardemos julgamento.
É a realidade da qual ninguém escapará.

Há uma frase antiga, de efeito, e que cabe muito bem aqui:

"A maior astúcia do diabo é fazer o homem acreditar que ele não existe"

Alexandre Unruh