quinta-feira, 19 de abril de 2012

Por que as igrejas não crescem?


Crescei na "graça e no conhecimento". (2 Pedro 3.18)
O que difere a igreja evangélica da romana (ou pelo menos deveria diferir)?
Certamente não é o uso de imagens de escultura ou a idolatria em si. Os romanos católicos podem pagar até centenas de reais para levar um ídolo aos seus altares e se prostrarem diante dele. Os evangélicos, hoje em dia, pagam milhares de reais para ter seus ídolos pregando ou cantando em seus púlpitos, e alguns não só se ajoelham, como chegam até a plantar bananeiras diante deles.
Também não é o batismo infantil, tendo em vista que grande parte dos batizados nas igrejas evangélicas no Brasil de hoje sequer fazem idéia do verdadeiro significado do batismo, acreditando ser simplesmente uma "virgula", onde antes Deus não levava em conta e que, de hoje em diante, levará. A idéia é a seguinte: Após o batismo tudo o que você fizer pode e será usado contra você no tribunal (ou nos púlpitos). Grande parte dos batizados evangélicos ainda são "crianças" espirituais.
Purgatório para o catolicismo fica em algum lugar entre a terra e o céu. Em grande parte das igrejas evangélicas fica entre o pecador e a comunhão.
O que realmente deveria divergir era o princípio do evangelho, ou o fundamento, como o apóstolo Paulo chamou, o qual ninguém pode (ou poderia) mudar: A salvação pela graça, e não pelas obras.
Infelizmente a maioria das igrejas evangélicas no Brasil ainda são meio pelagianas nesse ponto, não assumidamente, é óbvio. Não se prega salvação pelas obras nos púlpitos (ou pelo menos não abertamente), mas no fundo, no fundo, é exatamente isso que todos tem bem definido em suas mentes. Daí a razão das contendas, desamor, falsidade e assim vai...
Afinal, se a salvação é pelas minhas obras, se eu me salvo, eu tenho que me destacar. Jesus disse que a luz brilha em meio as trevas. Então, seguindo esse raciocínio, oras, que apareçam as trevas e minha luz brilhará. Como podem me achar bonito se não houver nenhum "feio" por perto pra compararem? E como verão que sou inteligente se não houver um "ignorante" por perto? Como poderei destacar minha "santidade" dentro de uma igreja e assim, ter certeza que sou "escolhido"? Fácil: apontando o dedo para as falhas dos demais, jogando suas debilidades no "ventilador".
Pior ainda, são os do púlpito. Com certeza tem que fazer valer suas posições, e nada melhor que "descer o cajado" na igreja, assim ficam visíveis suas qualidades. O pregador fariseu prega a obrigação através da ameaça do castigo. O cristão prega o amor, que gera a gratidão. O pecado prazeroso vence a religião da obrigatoriedade, mas jamais vencerá a fidelidade da gratidão. As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem (prazerosamente), e não "apanham de mim e por isso me seguem" !
Muitos acabam se esquecendo que "AQUELE que começou a boa obra há de nos aperfeiçoar" e que o barro não pode tornar-se vaso a não ser pelas mãos do oleiro, sua única virtude (se for realmente virtude) é ser maleável.
As igrejas não crescem porque Deus ainda está do lado de fora, e não vai entrar enquanto o homem achar que pode se salvar, se aperfeiçoar, e pior, aperfeiçoar o próximo. Ora, se somos capazes realmente de fazer tudo isso, pra que Deus?
Não crescem pois não aceitam o fato de que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus, que não há um justo sequer. Não aceitam que a única diferença entre os que estão das portas do templo pra dentro em relação aos que estão nos prostíbulos, bares, cadeias e pontos de tráfico de drogas é a "Graça" e não seus próprios feitos. Não entendem que se Deus olhasse diretamente pra nós, sem o filtro ocular da cruz e dos méritos de Cristo (e não dos nossos) seríamos todos consumidos.
Oxalá entendêssemos que estamos no mesmo patamar, que precisamos realmente uns dos outros, que somos falhos e estamos em construção pelo Espírito Santo. Que seguir normas e regras é fácil, mas, embora tenha resultados visíveis, não nos aperfeiçoa, é somente um desodorante para o corpo. O cristianismo é mais do que isso, transforma a nossa natureza, o odor do corpo. Como disse Yancey: A igreja não cresce porque não tem "graça", e nem conhecimento.
Aprende-se o que pode e não pode fazer, mas não os fundamentos da fé, no qual deveríamos ser alicerçados.
A igreja não cresce porque sua oração é: Deus, mude o que está lá fora! E deveria ser: Deus, mude o que está aqui dentro.
Ricardo Gondim citou: O homem amado por Deus não tem nenhum valor em si. O que lhe atribui algum valor é o fato de Deus amá-lo.
Enfim, não cresce porque não entende que santidade é fruto de comunhão com Deus, não o contrário. Porque não entende quando lê: "Salvação é pela graça mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não por obras, para que ninguém se glorie.

Alexandre Unruh

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pra não dizer que não falei sobre Marco Feliciano...

Há muito tempo (antes até da candidatura) eu venho dizendo que o sr Marco Feliciano vem introduzindo uma teologia herética e enlatada americana nas igrejas evangélicas brasileiras trocando a palavra de transformação de caráter e da vontade pelo emocionalismo desenfreado que não trazem absolutamente fruto algum para os crentes no "pós culto", mas que o povo engoliu sem questionar em momento algum. O resultado são igrejas "mega-espirituais" de crentes "acrobáticos" que carecem de valores e princípios que foram substituidos por quedas, rodopios e pasmem, até bananeiras. Pastor bom é o que faz o povo "se divertir" no conceito pentecostal dos apreciadores da teologia de Benny Hinn e seu xerox brasileiro, Feliciano.

Tendo deixado claro a "minha opinião" sobre esse sujeito, quero também expressar o que penso sobre o que está havendo no atual contexto:

Querendo ou não, ele foi eleito "democraticamente" por um eleitorado que o colocou lá para defender seus ideiais e no que acreditam. Depois, foi novamente eleito para o cargo de presidente da comissão de direitos humanos e minorias por outros parlamentares que também foram eleitos democraticamente e defendem ideais de seus eleitores, sejam eles minoria ou não.
Ativistas "invadindo" as sessões da câmara com beijos homossexuais e manifestações diversas e não permitindo as votações e tentando obrigar pelo uso da força e da violência que seja eleito um novo presidente que defenda melhor os "direitos humanos", além de um gigantesco contra-senso, é ilegal e inaceitável.

Manifestações políticas publicas a favor dos direitos e das liberdades homossexuais são expressadas dia após dia como por exemplo nos mandatos da "mãe" do movimento, dona Marta Suplicy e nem por isso evangélicos, católicos e outros segmentos religiosos se deram ao direito de "interromper" com o uso da força e da pressão que eles acontecessem.

Por favor, defensores desses "vândalos criminosos" (e me refiro aos tais ativistas), não me venham com essa de que o Brasil é um país de estado totalmente laico onde as questões religiosas não se misturam com os interesses da nação, porque nós, não católicos, não temos em nosso direito de parar algum dia do ano para feriados de nossos heróis da fé, como Luthero.

Nossas cidades são "apadrinhadas" e param pelas comemorações dos santos católicos todos os anos, aliás, evangélico que faz churrasco na talde "sexta-feira-santa" ainda é visto como "provocador" e desrespeitoso, quando não como "pagão". O Brasil não é um país laico, nunca foi, sua política e seu "modus-operandi" foi influenciado diretamente pela doutrina católica através dos séculos e ainda é.

Não me venham com essa: se os evangélicos são uma minoria que deve respeitar os direitos alcançados pelos católicos e pelos homossexuais (mesmo que ainda sejam muitos deles contra o princípio de estado laico ou de algum caráter ético), o sr Marco Feliciano (feliz ou infelizmente) está exatamente onde a democracia o colocou e deve-se respeito, se não a ele, a ela, a democracia, porque ao que me parece, há muitop mais em discussao do que ética e política e direitos estão sendo cobrados através de modos desumanos.

Alexandre Unruh

terça-feira, 3 de abril de 2012

Noites


Êxtase
Os argumentos do entardecer eram irresistíveis e sob o conselho camuflado da consciência contaminada, me entregava novamente aos braços do desconhecido. Os copos gelados entorpeciam e encorajavam, mediante a distração, o astro rei se escondia imperceptível e me abandonava. As gargalhadas dos boêmios jamais foram aliadas dos meus interesses, esse desvio de conduta era inexplicavel, a vaidade me completava.
Ignorava as boas vindas das madrugadas ocupando minha mente entre o desprezo pela realidade e o desfrute da utopia momentânea. As luzes delongar-se-ão a voltar, dizia.

Melancolia
A responsabilidade é inimiga da consciência festiva, queria me governar, mas o momento era de anarquia. O problema é que ela morava no travesseiro, destino inevitável. Os copos sustentados pelas mãos cada vez mais trêmulas trasbordavam pelos pulsos, mas o relógio jamais se afogava.
Ao aproximar-se a aurora, a ficção levava de carona o regozijo mas eu geralmente era coduzido pela amiga intuição.
Como em cama de boêmio lembranças recentes não se deitam, as pálpebras encobriam a realidade e ainda por um pouco adiavam o encontro com a melancolia.

Depressão
As trevas a amamentavam e faziam crescer saudável. A luz então tornava-se desejável, mas o fulgor só penetrava a pele, o espírito permanecia impermeável. Não havia acalanto em lugar algum, tudo era espinho, a água era salgada e o ar continha fumaça. Maldita lucidez - dizia - minha inimiga, afasta-te ! A depressão tranca em uma esfera ôca de solidão, só o que resta é dar voltas, e voltar, nesse caso, era um convite a boemia.

Alternativa

A religião dava náuseas e a noite era o remédio. Os estatutos descriminam os desobedientes mas são rasgados pela vontade. As cartilhas comportamentais bem editadas que me eram entregues se acumulavam na estante do descaso. Para mim, os bares eram menos danosos e não tão espúrios. O contraste do prazeroso que me custava com o obrigatório que me forneciam gratuitamente era desarrazoado. A carne era fraca mas a lei mortificava o espírito despreparado: parecia que eu era o mais sóbrio, que saudade dava da noite.

Acalanto

Escalada solitária: fugir da vontade sem quebrá-la era como correr atrás da própria sombra. Os que me ajudavam, me matavam, e os que me ignoravam, também. Entoxicado pelo desalento, padecia inerte e comiserar-me era inútil. Então ouviu-se no declive da morte um sussuro e a
taciturnidade da treva rompeu-se pela vida: Levanta-te e anda, dizia. Mãos me seguraram firme e trouxeram de volta. Perguntas sem resposta: ninguém refutava os porquês. Não houveram homens, nem intermediarios ou exigências. Não houve esforço, nem mérito ou obediência. Desde então já não enxergo sozinho as ondas no mar, nem rosas ou lírios nos campos. Não vejo forças suficientes em mim, nem milagres ou palavras. Há um vento que dá rumo ao meu veleiro pelas águas seguras na calmaria.
Só restou o constrangimento de querer pagar O que não me cobra e a gratidão que me enquieta nesse acalanto.

Ao Único que é digno seja a honra e a glória, pelos séculos dos séculos !

Amém.

Alexandre Unruh